
Chega às lojas em DVD a microssérie "Capitu". Para quem achava que arte e televisão não combinam, taí a prova de que as duas vertentes podem (e devem) andar juntas. Basta apenas um pouco de boa vontade, boas ideias e a ânsia de não apenas preocupar-se com números de Ibope, mas também com a qualidade da audiência conquistada. Afinal, audiência qualitativa é sinônimo de anunciantes de peso, o que mostra que a arte e o comercial não se esbarram nesta eterna luta.
"Capitu" foi a segunda obra do "Projeto Quadrante", do diretor Luiz Fernando Carvalho (do filme "Lavoura Arcaica" e novelas como "Renascer" e "O Rei do Gado"). Carvalho é um ferrenho defensor da busca de novas linguagens na teledramaturgia nacional e conquistou o aval da Globo para fazê-lo, sobretudo depois do sucesso de suas microsséries "Hoje É Dia de Maria" e "Hoje É Dia de Maria - Segunda Jornada", exibidas em 2005 e que garantiram sucesso de público e crítica. O "Quadrante" tem como proposta adaptações literárias de grandes autores brasileiros, rodadas nas locações reais e se utilizando de mão-de-obra, seja técnica ou artística, locais. O primeiro trabalho do projeto foi a microssérie "A Pedra do Reino", baseada na obra de Ariano Suassuna, que não obteve êxito na audiência e foi acusado pela crítica de ser intelectual "ao extremo".
Mesmo assim, o "Quadrante" foi levado adiante com a segunda obra, "Capitu". Exibida no final do ano passado, a bela microssérie teve uma única locação: o interior do Automóvel Clube do Brasil, palácio no centro do Rio de Janeiro. Ali, os cenários eram representados por elementos lúdicos variados, com marcas no chão delimitando o espaço e batentes móveis que representavam as portas das casas. O recurso lúdico permitiu belas cenas, como aquela em que Bentinho (Cesar Cardadeiro) e Capitu (Leticia Persiles) conversam junto ao portão, na verdade desenhado ao chão com giz. A produção, ainda, mistura rock de Black Sabbath com sinfonias clássicas. Além disso, o visual dos personagens é surreal: mescla figurinos do século 19 com elementos modernos, como fones de ouvido, MP4 e tatuagens.
Tudo para contar a clássica história do livro "Dom Casmurro", de Machado de Assis. No roteiro de Euclydes Marinho, com colaboração de Daniel Piza, Luis Alberto de Abreu e Edna Palatnik e texto final de Luiz Fernando Carvalho, foram mantidos a essência do romance. Diálogos inteiros foram reproduzidos fielmente, assim como a narração de um melancólico e sensacional Bentinho vivido pelo ator Michel Melamed.

Leticia Persiles
Assim como no romance, a série se divide em duas fases, mostrando o início do amor jovem entre Bentinho e Capitu e, depois, já adultos, quando Bentinho se atormenta com a ideia de que Capitu o traiu com Escobar (Pierre Baitelli), seu melhor amigo. O elenco é recheado de atores talentosos e desconhecidos do grande público. A Capitu jovem da estreante Leticia Persilles é um dos grandes trunfos da obra. Perfeita! Cesar Cardadeiro, como o jovem Bentinho, também está muito bem. Há ainda nomes do teatro, como Izabella Bicalho, Sandro Christopher, Bellatrix e Pierre Baitelli. Os famosos são Eliane Giardini e Maria Fernanda Cândido, belíssima como a Capitu adulta.
Além do espetáculo visual, "Capitu" ainda conta com outro trunfo: a música-tema da personagem, Elefant Gun, do grupo Beirut. Sensacional!
O "Projeto Quadrante" prevê ainda mais duas microsséries: "Dois Irmãos", de Milton Hatoum, e "Dançar Tango em Porto Alegre", de Sérgio Faraco. Mas há quem diga que a emissora teria suspendido o Projeto por tempo indeterminado. Carvalho negou e declarou que o "Quadrante" não tem periodicidade definida, o que nos leva a concluir que, pelo menos em 2009, não haverá nova série.
Pelo menos "Capitu" já está em DVD e merece ser visto e revisto sempre. Aos fãs de uma boa série de TV ou ainda aos fãs de Machado de Assis. Com certeza, nenhuma das duas "correntes" sairá decepcionada.

André Santana
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