01 agosto 2009

"À Deriva": estreia novo longa de Heitor Dhália

. 01 agosto 2009


Entrou em cartaz ontem nos cinemas brasileiros o filme "À Deriva". O longa de Heitor Dhália mostra a descoberta da vida a partir do olhar de uma adolescente. Dizem que, num momento da vida de todos, descobre-se a realidade. De repente, as imperfeições dos pais surgem com força total, e a gente finalmente enxerga que eles não são perfeitos e têm defeitos. Esse é um dos pontos abordados no filme, que tem um tom bastante autobiográfico, como o próprio diretor e roteirista declarou em entrevistas.

"À Deriva" mostra Filipa (Laura Neiva), uma adolescente de 14 anos que está em férias com a família em Búzios. Filipa dá os primeiros passos em direção à vida adulta, com a descoberta do amor com uma turma de amigos. É ali que ela também vai se deparar com dolorosas verdades, quando ela descobre que o pai, um famoso escritor (vivido pelo astro francês Vincent Cassel), está traindo a mãe (papel de Débora Bloch, ótima em cena) com uma estrangeira que mora na praia.

Heitor Dhália, que dirigiu "Nina" e "O Cheiro do Ralo", aparece agora num longa mais intimista e menos dark, como o primeiro, ou analítico, como o segundo. É o primeiro filme do diretor e roteirista sem a parceria com o escritor Marçal Aquino. "À Deriva" tem a colaboração de Vera Egito.

O filme foi muito bem recebido no último Festival de Cannes e agora pode ser visto pelo grande público brasileiro.

Mudando de assunto...

A minha parceira Janaína Moraes indicou um teste, em seu último post, em que você descobre qual livro seria. A sugestão é ótima, sugiro que você leia o post abaixo e também faça o teste. Eu fiz e gostei do resultado! E o reproduzo logo abaixo:

"Memórias póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis

Ok, você não é exatamente uma pessoa fácil e otimista, mas muita gente te adora. É possível, aliás, que você marque a história de sua família, de seu bairro... Quem sabe até de sua cidade? Afinal, você consegue ser inteligente e perspicaz, mas nem por isso virar as costas para a popularidade - um talento raro. Claro que esse cinismo ácido que você teima em destilar afasta alguns, e os mais jovens nem sempre conseguem entendê-lo. Mas nada que seu carisma natural e dinamismo não compensem."Memórias póstumas de Brás Cubas" (1881) é considerado o divisor de águas entre os movimentos Romântico e Realista. Uma das expressões da genialidade de Machado de Assis (e de sua refinada ironia), há décadas tem sido leitura obrigatória na maior parte das escolas e costuma agradar aos alunos adolescentes. Já inspirou filme e peças de teatro. É, portanto, um caso de clássico capaz de conquistar leitores variados. Proezas de Machado.

"A paixão segundo GH", de Clarice Lispector

Você é daqueles sujeitos profundos. Não que se acham profundos – profundos mesmo. Devido às maquinações constantes da sua cabecinha, ao longo do tempo você acumulou milhões de questionamentos. Hoje, em segundos, você é capaz de reconsiderar toda a sua existência. A visão de um objeto ou uma fala inocente de alguém às vezes desencadeiam viagens dilacerantes aos cantos mais obscuros de sua alma. Em geral, essa tendência introspectiva não faz de você uma pessoa fácil de se conviver. Aliás, você desperta até medo em algumas pessoas. Outras simplesmente não o conseguem entender. Assim é também "A paixão segundo GH", obra-prima de Clarice Lispector amada-idolatrada por leitores intelectuais e existencialistas, mas, sejamos sinceros, que assusta a maioria. Essa possível repulsa, porém, nunca anulará um milésimo de sua força literária. O mesmo vale para você: agrada a poucos, mas tem uma força única.

"O vampiro de Curitiba", de Dalton Trevisan

Descolado, objetivo e realista. Cult. Você deve se sentir mais à vontade longe de shoppings, da TV e de qualquer coisa que grite “cultura de massa”. Nada de meias palavras: a elas, você prefere o silêncio. Você não vê o mundo através de lentes cor-de-rosa, muito pelo contrário. Procura ver o mundo como ele é, entendê-lo, senti-lo. Às vezes, bate até aquele sentimento de exclusão, ou de solidão. Mas é o preço que se paga por ser um pouco "marginal". Não se preocupe, pois você atrai a admiração de pessoas como você: modernas no melhor sentido da palavra. Em "O vampiro de Curitiba" (1965), Nelsinho protagoniza uma variedade de contos, nos quais ele busca satisfazer sua obsessão sexual vagando pelas ruas de Curitiba - paralelamente, esta cidade de contrastes se revela ao leitor. A temática e a forma já denunciam: este não é um livro para qualquer um. Tem que ter cabeça aberta para enfrentar a linguagem nua e crua de Trevisan, que é reverenciado pelo leitor capaz de driblar velhos ranços burgueses.

[A única coisa que não bateu totalmente diz respeito ao lance da "cultura de massas". Eu realmente sou amante do universo alternativo e underground, sobretudo no cinema, mas quem me conhece sabe que eu sou fã de televisão. Não só fã: sou pesquisador da área e trabalho cobrindo TV para outros veículos. Mas o resto, tá valendo! Faça o teste você também!]

André Santana

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