24 junho 2010

Veríssimo revê Shakespeare em "A Décima Segunda Noite"

. 24 junho 2010

Um narrador privilegiado, que acompanhou de perto toda uma divertida história, é o trunfo de “A Décima Segunda Noite”, obra de Luis Fernando Veríssimo baseada na comédia “Noite de Reis”, de William Shakespeare. Quem compartilha toda a trama do livro com o leitor é Henri, um papagaio que trabalhava como atração de um salão de cabeleireiro com temática brasileira em plena França. De seu poleiro, foi testemunha de toda uma intriga cheia de encontros e desencontros amorosos.

O inusitado narrador nos leva a conhecer a brasileira Violeta, que se perde do irmão gêmeo ao desembarcar em terras francesas e é obrigada a se vestir de homem para conseguir um emprego no Illrya, o tal salão de cabeleireiro tocado por Orsino. Violeta, agora César, se apaixona pelo patrão, mas não pode revelar tal segredo, caso contrário, perderá o emprego. Orsino, por sua vez, é apaixonado por Olívia, sua cliente brasileira e rica. Porém, Olívia também desperta a paixão do mordomo Malvólio, que sonha com o dia em que terá um caso com a patroa. É dessa paixão que se desencadeia todo o conflito: Maria, empregada de Olívia, e Festinha, um amigo, pregam uma peça em Malvólio, fazendo-o acreditar que sua patroa lhe dará uma chance na décima segunda noite depois do Natal. Mas, na verdade, Olívia fica particularmente encantada por César, na verdade Violeta disfarçada.

A trama corre calcada em toda a confusão criada pelo grupo de amigos de Olívia nos dias que seguem, quando se desdobra toda a quadrilha amorosa do grupo principal. Porém, é o narrador diferenciado que faz toda a diferença. O papagaio-narrador, que também se apaixonou por Violeta, pontua toda a narrativa com observações bem humoradas e sagazes, além de reclamar da própria vida, de sua condição de papagaio e até do fato de ter suas penas cinza constantemente pintadas de verde e amarelo por causa de seu trabalho no Illrya. O narrador chega a reclamar da própria voz, lamentando que todos entendam a “tragédia” contada por ele como uma comédia. “É o som do caldeirão rachado com o qual pretendemos comover as estrelas e só conseguimos fazer dançar os ursos, como escreveu Flaubert sobre a linguagem”, diz, após se ouvir no gravador.

“A Décima Segunda Noite” é o segundo livro da coleção Devorando Shakespeare, da editora Objetiva, que publica novelas contemporâneas baseadas nas comédias do autor inglês. A coleção conta ainda com “Trabalhos de Amor Perdidos”, de Jorge Furtado, e “Sonhos de uma Noite de Verão”, de autoria de Adriana Falcão.

André Santana

0 xícaras tomadas.: