25 julho 2009

Os trunfos de "Som & Fúria"

. 25 julho 2009


Às vezes, quando ouvimos falar em adaptações de programas estrangeiros, sobretudo quando se trata de ficção, ficamos com um pé atrás: afinal, é impossível não vir à mente coisas como a adaptação exibida pela RedeTV de “Desperate Housewives” ou as novelas mexicanas a la SBT (ou Record?). Quase sempre a comparação entre a original e a adaptação é inevitável e, salvo raras exceções, o original nunca sai perdendo nesta comparação.

“Som & Fúria”, minissérie da Globo que terminou na noite de ontem, provou que é possível sim fazer uma boa adaptação. Alguém já disse que boas ideias são universais e bobagem seria não aproveitá-las. A tese bem se encaixa na inteligente adaptação da série canadense “Sling and Arrows” feita pelo festejado cineasta Fernando Meirelles.

O que foi visto na Globo foi a adaptação das duas primeiras temporadas de “Sling and Arrows” (que possui três temporadas e 18 episódios). “Som & Fúria” mostrou, de maneira bem-humorada, as agruras de se produzir arte comercial, conceito que soa até como paradoxo, visto a dificuldade de se equilibrar questões artísticas com o que é financeiramente viável. Assim, criou um conflito interessante e universal, já que arte é arte em qualquer lugar do mundo. O fato de ter um teatro como cenário também contribui com a universalidade do tema.

A série fez uma abordagem crítica, ácida e bem-humorada, dando uma “leve alfinetada” em seu próprio veículo, ou seja, a televisão. Através da trajetória do jovem ator Jacques (Daniel de Oliveira), um galã de TV que debuta no teatro, mostrou quanto o peso de um nome conhecido pode ser a melhor maneira de se atrair grandes plateias, ao mesmo tempo em que gera desconforto entre os veteranos da companhia de teatro. Além disso, reforçou alguns estereótipos para acertar o tom da comédia, sobretudo quando se via um diretor de teatro um tanto “maluco” como Dante (Felipe Camargo), ou megalomaníaco e egocêntrico como Oswald Thomas (Antônio Fragoso). No enredo, o grande destaque é a relação entre Dante e o fantasma de Oliveira (Pedro Paulo Rangel). No elenco, descaram-se, além dos protagonistas Felipe Camargo e Andréa Beltrão (Elen), a atriz Cecília Homem de Mello, divertidíssima como a secretária Ana, além de Juliano Cazarré, como Cléber, namorado de Elen.

“Som & Fúria” mostrou que é possível buscar novas linguagens na teledramaturgia sem precisar cair na “piração” da inovação pela inovação, simplesmente. Essa é uma missão que se torna mais interessante e viável quando a Globo se abre para produções independentes, permitindo uma fuga do “ranço” das produções tradicionais do gênero. “Som & Fúria”, produzida pela O2, se junta a “Antônia”, “Ó Paí, Ó” e “Cidade dos Homens” como boas experiências nesse sentido.

Só é questionável a decisão da emissora ou produtora de fazer da série “Sling and Arrows” uma minissérie. A diferença nos formatos causou estranheza, pois houve uma “quebra” na narrativa, referente ao final da primeira temporada e início da segunda na série original. “Som & Fúria” começou com Kátia (Maria Flor) e Jacques como protagonistas jovens, mas eles saíram no meio da trama, quando entrou Sarah (Débora Falabella) e Patrick (Leonardo Miggiorin), dando a sensação de “mais do mesmo”. Mesmo assim, fica a expectativa da adaptação da terceira temporada ou até histórias originais. Seria muito bom.

André Santana

3 xícaras tomadas.:

Anônimo disse...

Nem volvi, nem volver.

SILVANA PEDRINI disse...

Sensacional, como escreve bem!
Bom, meu antigo sonho era ser jornalista, mas hoje me conformo em escrever para o meu blog.
Sobre a série: juro que fiquei com vontade de assistir, mas sempre colocam esses programas em horários bem tardes. Fiquei na vontade e perdi muito.
Obrigada pela visita e comentário no blog, espero que volte.

Abraços

Ademir Santana disse...

Em breve vão disponibilizar a série em DVD, sem cortes (cada episódio era para ter 50 minutos). Altamente recomendado e faço coro ao resenhista, inclusive nos problemas apresentados. Diferentemente de Capitu, que me fez ter ódio mortal de Machado de Assis, Som & Fúria me fez ver que Shakeaspere é o cara.