13 fevereiro 2010

"O Amor Segundo B. Schianberg": das telinhas para a telona

. 13 fevereiro 2010

Dizem que cinema no Brasil ainda tem cara de novela de TV. O que não deixa de ter suas verdades, sobretudo se considerarmos produções da Globofilmes, que reúne diretores e atores sempre vistos nas novelas da TV Globo. No entanto, é inegável que o cenário brasileiro é bem mais favorável às produções televisivas, onde temos know how e uma estrutura bem maior ao ser comparada com nossa produção cinematográfica. Daí, podemos considerar até natural que um produto feito para a televisão acabe chegando aos cinemas. "O Auto da Compadecida" deve ser o principal exemplo disso. Porém, já nos acostumamos a ver filmes chegarem à TV, mas produções de TV chegando aos cinemas ainda são mais raros.

Engrossando esta pequena lista está "O Amor Segundo B. Schianberg", uma produção de Beto Brant (de "O Invasor") para o projeto "Direções III", exibida pela TV Cultura, que agora estreia nos cinemas. Exibida em julho do ano passado em formato de minissérie em quatro capítulos, a produção foi chamada de tediosa e pretensiosa pela crítica. Agora na tela grande, é a chance da obra se livrar de certas "gorduras" apresentadas na TV e finalmente mostrar algo mais além que uma pretensão irreal.

O longa mostra o experimento de um psicanalista (o doutor Benjamin Schianberg, do qual só ouvimos a voz), que propõe a Gala (Marina Previrato), uma videoartista, a se relacionar com um ator, Felix (Gustavo Machado) durante três semanas, filmando o dia-a-dia deles como se fosse um reality show. A ideia é estudar o comportamento amoroso. O espectador entende que se trata de uma análise de observação através da voz do doutor (de Felipe Ehrenberg), cujas anotações surgem na tela em determinados momentos. Enquanto a análise é feita, observamos a convivência entre o casal, que conversa sobre os assuntos mais banais, filosofam, dormem e se amam. Takes fora de quadro aumentam a sensação de "espionagem", e a luz natural (ou falta dela) reforça o ambiente de realidade.

E não é à toa. "O Amor Segundo B. Schianberg" foi realizado de modo o mais próximo possível do real. Os atores improvisaram os diálogos a partir da sinopse das cenas, em um esquema de gravação em que ambos ficaram semiconfinados num apartamento na Aclimação, em São Paulo. Terminadas as gravações, o diretor Beto Brant buscou uma história em meios às mais de 150 horas de material bruto gravado.

O resultado realmente impressiona. O espectador é levado a "deduzir" que está diante de um experimento científico, pois isso não é mostrado na trama. Em alguns momentos, se vê diante de conversas banais e tediosas. A força de atração se dá mais pela situação de poder que a condição de "espião" confere ao espectador do que a ação retratada (ou a falta dela). Assim, "O Amor Segundo B. Schianberg" se mostra irregular, pois o ar de cotidiano aparece, em alguns momentos, enfadonho. Estranhamente interessante, muito mais pela proposta que o resultado em si.

"O Amor Segundo B. Schianberg" é baseado no personagem Benjamin Schianberg, do livro "Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios", do escritor Marçal Aquino (roteirista dos filmes "O Invasor" e "Ação Entre Amigos", e da série global "Força-Tarefa").

André Santana

2 xícaras tomadas.:

Anônimo disse...

você assistiu antes de escrever? a participação do psicanalista foi totalmente cortada no longa.

Café Expresso. disse...

A crítica foi escrita com base na minissérie, e não no longa. Não sabia que o psicanalista havia sido cortado. André Santana